Introdução
O gênero de games de corrida carecia de sangue novo. Uma nova tentativa, uma nova empreitada. Foi aí que a Electronic Arts resolveu entrar no ramo. Juntando-se à revista automotiva americana Road & Track, ela pôde adquirir informações essenciais sobre o comportamento dos carros mais cobiçados dos Estados Unidos, e, em 1994, lançou para o console 3DO o game Road & Track Presents: The Need for Speed, ou, se preferir, apenas The Need for Speed. Em 1996 ele chegaria ao Playstation. Mal sabiam eles que estavam dando origem a uma das franquias de games de corrida mais amada de todos os tempos, e uma das franquias de maior sucesso da história dos games.
THE NEED FOR SPEED
Informações técnicas
Publicado por: Electronic Arts
Desenvolvido por: EA Canada
Gênero: Racing
Plataforma: 3DO, Playstation, Sega Saturn e PC
Data de lançamento: 9 de dezembro de 1994
Faixa etária: Everyone
Sobre a história
Não
existe história. Você é um carinha que sabe dirigir e que consegue
dirigir sem usar as mãos, e que não possui cabeça. E você sai pelas ruas
competindo contra outros motoristas que são tão invisíveis quanto você.
Simples assim.
Sobre o jogo
O game já começa com uma gravação de carros reais dirigindo em altíssima velocidade. Tudo para animar o jogador. Se você sempre sonhou em dirigir um daqueles carros caros e repletos de cavalos de força, esse game é a sua chance de pelo menos se sentir dirigindo um.
Há oito carros disponíveis no game, todos fielmente baseados nos modelos reais, tanto na aparência quanto na sua performance. São eles: um Lamborghini Diablo VT, uma Ferrari 512TR, um Dodge Viper RT/10, um Chevrolet Corvette ZR-1, um Porsche 911 Carrera, um Toyota Supra Turbo, um Acura NSX e um Mazda RX-7. Já babou por uma dessas beldades automotivas do começo dos anos 90, poderá dirigi-las aqui. Além de tudo, se for um fã mesmo desses carros, poderá ver descrições completas sobre a história de cada um desses carros, contando com informações detalhadas, várias fotos, vídeos e direito até mesmo a uma narração especial apresentando o carro, para que você possa saber ainda mais sobre eles. Todos esses veículos já vem disponibilizados desde o começo.
O jogo possui quatro modos de jogo. Em Single Race, você escolhe um dos oito carros disponíveis, e compete contra outros sete carros em uma pista à sua escolha. Em Head to Head, você escolhe um carro e compete contra um único carro à sua escolha em uma pista à sua escolha. Em Tournament, você escolhe um carro e compete contra outros sete carros em uma pista à sua escolha (também). Em Time Trial, você escolhe um carro e compete contra o tempo em uma pista à sua escolha. Enfim, esses são os quatro modos de jogo.
Não há nada de novo aqui. Aparentemente, Tournament seria o "modo história". Só que ele não ele: ele não passa de um Single Race com um aviso no final de que você ganhou. Não passa disso. Vença o Tournament em qualquer pista, com qualquer carro, e assistirá um vídeo dizendo que você é o campeão. Mas não ganhará exatamente nada com isso. Todos os carros e pistas já vêm desbloqueadas desde o começo do game. Você não irá ganhar nada, não irá desabilitar nenhum extra, por mais torneios que vença ou por melhor que seja. É bem desestimulante mesmo.
Agora, vamos falar sobre a jogabilidade. The Need for Speed foi feito para simular carros de corrida de altíssima velocidade. Pois bem, não temos carros lentos aqui, apenas os mais velozes possível. Mas a jogabilidade desestimula o jogador a acelerar ao máximo, uma vez que ele foi bem realista nesse ponto. Os carros viram muito mal, e fazer uma curva em alta velocidade é terminantemente impossível: ou você freia bem antes de realizar a curva, ou já era. E quando eu digo já era, quero dizer que seu carro vai bater, voar, capotar e tudo. Se puder voltar para a pista, melhor, se não, seu carro será teleportado de volta para o centro da pista (como em Mario Kart). E essas batidas quase sempre significam que as suas chances de chegarem primeiro lugar caíram para 0.
Não me leve a mal: a física do jogo não é de todo ruim. Trata-se daquilo que podíamos esperar de carros de verdade, quero dizer, pelo menos enquanto estamos correndo em linha reta. Porque o sistema de curvas ficou bem estranho, e leva-se um bom tempo para se dominar o método de realizar curvas perfeitas (diferente de outros games, em que fazer curvas é até bocejante). O que atrapalha são fatores ainda mais intensos. Por exemplo: não dá para saber onde a pista acaba ou não. Há paredes invisíveis dos dois lados da pista, e, mesmo que percamos só um pouquinho do controle do carro e saiamos levemente da pista, o carro geralmente bate em alguma coisa, perde velocidade e é brutalmente arremessado de volta à pista. Por quê, não se sabe, uma vez que não existe nada ali para que ele possa ter batido, a não ser que fosse uma parede invisível. Ah, e para piorar tudo, eles incluíram um botão de derrapagem, que permite ao seu carro derrapar. Só que é impossível manter o carro na pista ao usar esse botão, a menos que queira rodopiar totalmente e parar de costas para a direção em que estava indo. Resultado: esse botão é inútil, e você não vai nem precisar saber que ele existe para se dar bem.
Bom, agora as pistas. Há seis pistas no jogo. Todas genéricas com paisagens variadas. Tem uma montanhosa, uma costeira, uma em uma cidade, uma na floresta, uma nos alpes, uma no vale, e assim por diante. Algumas são pistas completas, ou seja, você têm de dar voltas em um mesmo segmento. Outras são retas, ou seja, você segue sempre em frente, e a corrida não é dividida em voltas, e sim em segmentos percorridos. Tem ainda outras pistas que podem ser disponibilizadas através de códigos secretos apenas. Sim, apenas através de códigos. Nada de extras especiais: ou usa o código secreto que encontrou em algum site na internet ou nada de pista nova. Sacanagem isso, né? Por esse motivo, considero essas outras pistas um cheat, e, portanto, para mim elas não existem e não contam mesmo.
Agora, permita-me falar uma coisa que eu achei bem interessante: quando se joga no modo Head-On em uma pista reta (ou seja, que não seja de voltas), você irá encontrar tráfego. Correr enquanto desvia de outros carros no trânsito é muito mais legal do que parece, e realmente chega a ser um diferencial em relação a outros games de corrida por aí. Sem contar que pode ser uma distração depois de já ter cansado de jogar os games convencionais. Mas não é só isso: além de passar por carros comuns, encontrará viaturas de polícia, também. Ao passar por uma dessas viaturas, ela começará a lhe seguir, e aí é um Deus-nos-acuda. Se a polícia lhe pegar, será detido, e terá de recomeçar, como se tivesse batido. Se for detido várias vezes, será preso e a corrida acaba. Esse elemento torna essas corridas ainda mais interessantes de se percorrer, e mais divertidas também.
Para finalizar, vamos falar sobre o modo multiplayer? Sim, porque nenhum jogo de corrida está completo sem um modo multiplayer. Dá para chamar um amigo para uma jogatina com tela dividida, ou, se preferir, linkar dois Playstations, com duas cópias do jogo e duas televisões, e cada joga em sua televisão particular. Não há grande coisa em jogar com um amigo, além do fato de que podemos passar horas e horas debochando um da cara do outro.
Minha análise do jogo
Gráficos
The
Need for Speed apresenta um foco bem grande em chamar a atenção do
jogador para os carros mais velozes do mercado. A aparência dos carros
está bem trabalhada, e realmente causa a impressão necessária.
Principalmente a visão interior do veículo. Os cenários foram bem
trabalhados, também. Não são lindões, mas são detalhados e variados.
Eles passam realmente o clima do local em que estamos correndo. Só que
os efeitos que vemos não concordam com o que esperamos. Quase não se
percebe efeitos de luz, ou qualquer outro tipo de efeito. Até mesmo os
capotes são estranhos de se ver, e não é nada incomum ver carros
atravessando uns aos outros, ou alcançando alturas impossíveis. Os
vídeos que aparecem no decorrer do jogo são gravações de carros reais,
também. Por conta disso, o empenho que a Electronic Arts teve com os
gráficos foi considerável.
● Nota pessoal: 3/5 (Empenho Considerável)
Som
O
desempenho sonoro de Need for Speed é frenético. O jogo anseia pela
velocidade, e as músicas refletem justamente isso. As músicas foram bem
escolhidas e são excelentes. Os sons de batidas e capotagens poderiam
ter sido melhorados, mas estão medianos. E o foco vai para os sons
internos do carro: cada carro teve seus sons gravados e reproduzidos com
perfeição. Desde o som dos motores ao som da troca de marchas, ou do
cantar dos pneus, tudo está fielmente reproduzido de acordo com os
originais, e merece aplausos. Empenho excelente da Electronic Arts.
● Nota pessoal: 4/5 (Empenho Excelente)
Jogabilidade
A
jogabilidade de The Need for Speed foi bem pensada, eu diria, mas não
foi nem de longe bem executada. Os carros respondem até que bem aos
comandos. Só que o sistema que eles escolheram para fazer curvas é
horrível, e terrivelmente frustrante. Sem dizer que eles incluíram um
"botão de derrapada" que é totalmente inútil, uma vez que, se usá-lo,
sairá da corrida quase que imediatamente. As paredes invisíveis também
atrapalham muito as ultrapassagens. Sem contar que o sistema de toque
entre carros é horroroso. Enfim, o jogo simula bem carros em grande
velocidade, mas, se eles quisessem que a jogabilidade fosse boa e
viciante, teriam de ter melhorado muito. Dá até para se acostumar, após
um tempo, mas o número de falhas é tão grande que decepciona e frustra
muito. Em si, uma das jogabilidades mais complicadas dos games de
corrida. Empenho mediano, apenas, para a equipe da Electronic Arts.
● Nota pessoal: 2/5 (Empenho Mediano)
Diversão
The
Need for Speed só é divertido em duas ocasiões: à primeira vista, e
então depois que você se acostumar com todas as suas falhas. O jogo
parece fantástico quando se corre as primeiras corridas, tenta pegar as
manhas da jogabilidade e começa a se sentir realmente no controle de um
possante. Aí, em pouco tempo, a jogabilidade irá incomodar, e não tem
como evitar se sentir frustrado ao ver que o jogo poderia ter sido bem
melhor. Muitos irão desistir, mas aqueles que ficarem e dominarem o game
encontrarão um jogo divertido. Principalmente no modo Head-On, com
tráfego na pista e viaturas atrás de você. Pena que o jogo não é lá tão
difícil, e nem é recompensador de nenhuma forma. A corrida em si é
interessante, mas a pouca variedade fornecida fará com que você enjoe
rápido e deixe de aproveitar o que o jogo tem de bom. Mesmo assim, por
seus bons momentos, eu ainda consigo afirmar que a Electronic Arts teve
um empenho considerável com a diversão nesse game.
● Nota pessoal: 3/5 (Empenho Considerável)
Longevidade
Esse
é o ponto mais assustadoramente esquecido por parte da Electronic Arts.
Eles ignoraram completamente a longevidade. Tudo o que você pode querer
está disponível para você desde o começo. E pronto. Não há exatamente
nada que você possa fazer, além de correr usando o que você tem e se
divertir enquanto escreve seu nome na lista dos melhores colocados da
pista. Fim. Nenhum carro novo, nenhuma pista nova, nada. A única coisa
que pode vir a salvar a longevidade é o modo multiplayer, mas mesmo
assim é pouquíssimo. Não sei o que eles tinham na cabeça quando
resolveram fazer isso, mas aqui está a minha opinião a respeito: a
Electronic Arts menosprezou o quesito longevidade, e teve pouco empenho
em fazer algo nesse sentido.
● Nota pessoal: 1/5 (Empenho Mínimo)
Inovação
Bem,
digamos que a Electronic Arts não teve necessariamente um lampejo de
criatividade para se fazer esse game. The Need for Speed não apresenta
exatamente nada que outros games do ramo já não tenham apresentado antes
dele. Sua mecânica de jogo, seu estilo e até mesmo alguns de seus
carros já apareceram em outros games. Sem contar que sua aparição no
Playstation não acrescentou em nada. Mas ainda assim, The Need for Speed
se distancia de outros games do gênero por demonstrarem um gosto muito
mais pessoal, eu diria. Trata-se de um game feito para fãs de carros, e
de carros velozes. A parceria com a revista Road & Track
permitiu que esse game se tornasse uma pérola digna de colecionador,
pois ele nos dá a exata sensação de como é acelerar fundo os carros mais
cobiçados do mercado. Não se trata de um jogo de corrida, e sim uma
homenagem aos apaixonados por alta velocidade. Enfim, eu acho que essa
ideia poderia ter sido bem melhor trabalhada, e The Need for Speed
poderia ser reconhecido como um game muito inovador, se tivesse sido
dado mais atenção a alguns quesitos inteligentes (como a inclusão de
tráfego e de polícia no modo Head-On). Mas, por ter tido a oportunidade
de ser inovador e acabar sendo apenas mais do mesmo, posso dizer que a
Electronic Arts teve algum empenho em fazer algo diferente dos outros.
Pouco empenho, mas esse empenho existe.
● Nota pessoal: 1/5 (Empenho Mínimo)
Soma Final: 14/30 (Ruim)
Em resumo:
Road & Track Presents: The Need for Speed não brilhou. Trouxe
uma proposta interessante, mas a execução apresenta muitos problemas. O
jogo não possui nenhuma longevidade, e é muito semelhante àquilo que já
vinha sendo mostrado. Seu resultado pode ter sido ruim, mas coube à
Electronic Arts perceber seus erros e consertar nos games futuros. Uma
prova disso é que a franquia Need for Speed, que começou tão mal, viria a
se tornar a franquia de corrida mais vendida de todos os tempos, nos
anos subsequentes.
Análises profissionais
O Metacritic não possui uma média para Road & Track Presents: The Need for Speed.
Detonado em vídeo
Não
há bons detonados em vídeo sobre esse game na internet. Encontrei essa
raridade em um detonado completo do game, mas a versão jogada é para PC.
Há muita diferença entre essa versão e a do Playstation no que se
refere a menus e controles, mas a mecânica de jogo, os carros e as
pistas são exatamente as mesmas. Assim, poderá conferir esse vídeo em
boa qualidade e excelentemente compactado para ver algumas boas
estratégias de direção. Confira:
Parte única
E aí, o que achou desta análise? Curtiu? Deixe-me seu comentário, ou entre em contato comigo pelo e-mail: adm_melhorfinal@hotmail.com ou pelo twitter: @AdmMelhorFinal.
Mas o quê? O que está girando o volante?
ResponderExcluirUé... A força da mente, ora bolas!
ResponderExcluirSim, tanto o volante quanto o câmbio são controlados por motoristas invisíveis. Fazer o quê...