quarta-feira, 27 de abril de 2011

Seria L.A. Noire o contra-senso da Rockstar? - Crônica


Todos já devem saber sobre L.A. Noire, e sobre a expectativa que o game está causando em todo o mundo. Mas quando penso em L.A. Noire, eu penso em uma coisa que talvez alguns gamers ainda não tenham parado para pensar: a importância que o jogo terá para a empresa Rockstar Games.


Caso não saibam, a Rockstar Games é uma divisão de estúdios desenvolvedoras de jogos que, juntamente com a 2K Studios e outros estúdios menores, compõem a gigante Take-Two Interactive. A empresa é conhecida por ser detentora de direitos de várias das séries mais polêmicas do mundo dos games. Séries de sucesso da empresa incluem Grand Theft Auto, Red Dead, Max Payne, Manhunt, Bully e também Midnight Club.

Rockstar ficou mundialmente conhecida por seus games violentos. Não é coincidência que cinco de suas seis principais séries sejam indicadas para maiores de dezoito anos, repletos de conteúdo adulto com cenas de violência extrema, corrupção, drogas e sexo explícito, e proibidos em diversos países do mundo. A Rockstar optou por ser assim, e conquistou um público seleto que é apaixonado por jogos com esse tipo de conteúdo. A questão é como esse público irá reagir a L.A. Noire.


Todos os fãs da Rockstar Games estão muito ansiosos em relação a L.A. Noire. O jogo é super esperado, e pretende bater todos os recordes de popularidade (e olha que muitos dos recordes pertencem à própria Rockstar). Mas L.A. Noire, em alguns pontos, é tão distante de outros games produzidos pela empresa que chega a parecer um contra-senso que o mesmo público esteja sendo atraído.

Em jogos como Grand Theft Auto, boa parte da diversão está em realizar atos ilícitos. O jogo foca na realização de missões para o prosseguir da história, e tudo o mais, mas as missões envolvem matar pessoas, matar policias, explodir prédios, bancar o terrorista, transportar drogas, e tudo o mais. Em Red Dead, podemos escolher se queremos ser do bem ou do mal. Podemos só fazer missões, e ser apenas um mocinho, mas o jogo dá a possibilidade de botar o terror no Velho Oeste, assaltando todo mundo e enfrentando a polícia com todas as forças.

Enfim, os jogos da Rockstar nos permitem uma liberdade total de atitudes. Ela nos dá a chance da escolha, de podermos fazer o bem ou o mal, e esse dilema está presente em GTA, em Red Dead, em Bully, e faz parte da história e da importância desses games, pois nos leva a refletir e tirar conclusões geralmente positivas sobre os jogos. Mesmo que muitos joguem esses games apenas para diversão, ao final sempre podemos perceber valores como "o crime não compensa", "os fins não justificam os meios" e outras coisas assim, principalmente nos mais recentes, como Bully, GTA San Andreas, GTA IV e Red Dead Redemption.

Ele está armado e é perigoso, mas está do lado do bem.

E quanto a L.A. Noire? Em L.A. Noire, controlaremos Cole Phelps, um policial que está em sua carreira de ascensão dentro da polícia. Uma pessoa correta e justa, perfeitamente do bem, que está tentando solucionar crimes e subir de posto, até chegar aos cargos de diretor e chefe de polícia. Não se trata de uma pessoa com um perfil conturbado, como Jimmy Hopkins, nem um sociopata pós-guerra, como Niko Bellic, um homem sem escrúpulos que vivenciou o crime desde criança, como Carl Johnson, e também não é um famigerado fora-da-lei em busca de paz, como John Marston. Trata-se de um homem normal, estudado, com a cabeça no lugar e disposto a fazer o bem. Ponto.

Poderemos usar muitas armas, e de grosso calibre.

Isso quer dizer que NÃO PODEREMOS matar inocentes, assaltar pessoas, atropelar pessoas nas perseguições de carros, explodir prédios, transportar drogas, relacionar com traficantes e mercenários, e nem fazer amizade com terroristas e gângsters. Por quê? Simplesmente porque somos um agente da lei, estamos do lado do bem. Podemos usar armas, mas apenas para matar bandidos.

Isso não quer dizer, de maneira alguma, que o jogo será menos divertido. Ele parece ser tão divertido quanto os outros games da Rockstar. Ele apenas será, e quanto a isso não há dúvidas, mais "limitado" com relação à liberdade imposta ao jogador dos outros jogos. Não tem porquê a Rockstar dar a mesma liberdade a Cole Phelps que deu a Carl Johnson ou John Marston, por exemplo. Por sermos do bem e não podermos realizar atrocidades pela cidade, alguns fatores podem parecer estranhos. O que acontece, se durante uma perseguição, atropelarmos alguém? E se, durante um tiroteio, acertarmos uma bala perdida em uma senhora que estava passando no local? Perderemos pontos? Teremos de refazer a missão? Esse tipo de valores nunca foram questionados em outros jogos, mas poderão ser questionados aqui. Cole Phelps não é um agente 007 com carta branca para sair matando todo mundo: ele obedece a lei, e a lei impõe limites. Diferente do mundo do crime, o que aqui se faz, aqui se paga. Eu não consigo imaginar Cole Phelps saindo de uma missão arriscada em um assalto ao banco para ir fazer sub-missions de transporte de carga roubada, drogas ou prostitutas, e nem indo a clubes de strip-tease para relaxar. Que dirá grafitar paredes, fazer coleções de carros roubados e tunados na garagem de casa e sair explodindo carros com lança-foguetes e queimando pedestres com um lança-chamas. Simplesmente não me parece ser "a cara" do jogo. Essa é a minha opinião.

Mas isso também não quer dizer que não haverá polêmica. Lógico, o jogo é da Rockstar, logo, terá polêmicas. Haverá grandes assassinatos, muita violência, muita prostituição, cenas de sexo explícito, drogas, bebida alcoólica, pedofilia, estupros, e tudo aquilo que sabemos que vai ter. Mas não realizados por parte do protagonista. Pelo contrário: será a nossa missão, enquanto jogador do jogo, encontrar e prender assassinos, assaltantes, traficantes, ladrões de carro, cafetões, estupradores, pedófilos e contrabandistas. Aqueles que estamos acostumados a ver como "parceiros de crime" em outros jogos, serão nossos inimigos, agora.

Um roubo à carga! Vamos atirar na polícia! Peraí... Nós somos da polícia, agora! Vamos atirar nos bandidos!

Seria isso um contra-senso feliz para a Rockstar? Ela estaria tentando provar a todos nós que é capaz de fazer um game tão divertido e emocionante quanto os outros, só que sem abusar da liberdade extrema e da total criminalização do personagem? Está mais do que claro que a Rockstar está produzindo um game que é diferente de tudo aquilo que ela já fez até então, e tudo o que lhe consagrou esse lugar em que ela está. Seria esse o primeiro passo de uma nova investida da Rockstar? Porque, se L.A. Noire der certo (e não há motivos para não dar), ela irá calar a boca de muita gente, provando ao mundo que sabe fazer jogos "do mal" assim como pode fazer "jogos do bem", com a mesma qualidade e diversão. Resta-nos agora esperar e ver como as atitudes de Cole Phelps "influenciarão" os fãs da Rockstar; se eles gostaram de ser o mocinho para variar ou se prefeririam voltar a ser os bad-boys da vez.


Gostaram do post? Têm algo a dizer a respeito? Quero saber a opinião de vocês! Comentem, vamos lá!!!

Um comentário:

  1. A violência em L.A. Noire típica da Rockstar ainda existe.

    A diferença é que os objetivos são diferentes agora. Antes você era corrupto, assassino, traficante ...

    Agora você é um detetive, que precisa trabalhar pelo bem estar geral. Óbvio que isso não é motivo para eliminar mortes, violência e todas as misturas que a Rockstar está acostumada a incluir em seus games.

    Concordo com a grande maioria do que foi dito no texto, mas discordo de algumas poucas coisas ...

    Não é preciso ser o pior dos seres para ser tão violento e cruél quanto. Pelo menos eu acho assim.

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