quinta-feira, 12 de abril de 2012

Shadows of the Damned - Análise

Esta é a análise de Shadows of the Damned, lançado pela Electronic Arts em 2011 para o Playstation 3 e o Xbox 360.

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Introdução

A Grasshopper Manufacture é conhecida pelas invencionices e pela grande imaginação de seu líder, Goichi Suda (conhecido como Suda51), a mente por trás de games como Killer7 e No More Heroes. Até que, então, Suda decide criar um jogo paranoico baseado nos contos sem noção do escritor checo Franz Kafka.  Ele reuniu seus maiores amigos e colaboradores: nomes consagrados na indústria gamística, como Shinji Mikami (criador de Resident Evil), Massimo Guarini (desenvolvedor de Rayman) e Akira Yamaoka (compositor das músicas de Silent Hill), na intenção de criar uma obra de arte excêntrica, única e tentadoramente incomum. Será que esse grupo fantástico realmente conseguiu agradar o público? É o que veremos no decorrer dessa análise.

SHADOWS OF THE DAMNED


Informações técnicas

Publicado por: Electronic Arts
Desenvolvido por: Grasshopper Manufacture
Gênero: Third-Person Shooter
Diretor: Massimo Guarini
Plataforma: Playstation 3 e Xbox 360
Data de lançamento: 21 de junho de 2011
Faixa etária: Mature

Sobre a história (contém spoilers)

A história de Shadows of the Damned é perturbadora. É uma história tão excêntrica e fora do senso comum que chega a ser até difícil de conceber, mas no fundo é bem simples e até mesmo um pouco cliché (e picante também). Eu tento explicar enquanto vocês tentam compreender:

A história se passa em um mundo obscuro, que é o mesmo mundo no qual vivemos hoje. Não se sabe a época, apenas se sabe que é em algum lugar dos Estados Unidos. Há demônios à solta, e também há caçadores de demônios. O mais conhecido e perigoso caçador de demônios, além de ser o protagonista do jogo, é o Garcia Hotspur.

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Como o nome deve dar uma pista, sim, Garcia Hotspur é o tatuado e psicótico caçador de demônios. Seu passado é um tanto desconhecido, o que o torna um protagonista muito misterioso. Ele é sádico e eficiente na sua caça aos demônios, e é do tipo que não se curva perante ninguém. Nascido no México, possui um forte sotaque em sua pronúncia e em seu vocabulário. Possui o corpo quase totalmente tatuado, com caveiras, serpentes e algumas frases especiais, como a famosa "Eu mataria o mundo antes de lhe fazer algum mal" que ele tatuou na garganta. Ele veste roupas de couro, bem estilo motoqueiro, e usa acessórios extravagantes, como um cinto que diz "Me mate" e anéis de caveira. Porém, nada, mas nada mesmo que ele possua, é mais extravagante do que a sua alma de estimação chamada Johnson.

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Johnson é um demônio, ou quer dizer, era. No passado, ele habitava o mundo dos demônios, como um demônio comum. Porém, ele não gostava muito da vida que ele levava por lá, até que ele decidiu fugir, e por isso ele foi castigado e banido para sempre. Johnson foi condenado a viver no mundo dos vivos, na forma de uma caveira. Apesar de possuir uma personalidade, conseguir falar e ter poderes especiais, Johnson foi usado por muito tempo como um objeto de coleção, entre os caçadores de demônios. Até que Garcia o ganhou em uma aposta, e passou a ser seu mestre. Johnson e Garcia desde então se tornaram melhores amigos e companheiros de aventuras. Johnson é capaz de se transformar em uma moto e em uma grande variedade de armas, o que o torna mais que um amigo: uma ferramenta imprescindível na caça dos demônios.

Pois bem. Tudo estava indo bem para o lado dos caçadores de demônios, quando Garcia e Johnson acabaram de eliminar um poderoso líder militar demoníaco. Porém, antes de morrer, o demônio citou o nome da namorada de Garcia, Paula. Intrigado, Garcia decide retornar para casa e ver se está tudo bem com a sua namorada. Antes de dizermos o que acontece a seguir, vamos falar um pouco mais sobre quem é a Paula.

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Paula é a namorada de Garcia Hotspur. Trata-se de uma belíssima garota, de cabelos loiros curtos e enrolados, um olho cinza e outro olho azul, belas curvas e um temperamento apaixonante. Garcia a encontrou anos atrás, em um latão de lixo atrás de um mercado. Foi paixão à primeira vista. Garcia a levou para casa e cuidou dela. No começo, ela s recusava a falar com Garcia, porém, aos poucos, ela foi se soltando para ele. De temperamento agressivo, ela sempre se transformava em um demônio sanguinário quando era contrariada por Garcia (típico de qualquer mulher de TPM), mas ele achava uma graça esses desvios de comportamento dela. Garcia não faz ideia sobre qual era a vida que Paula levava antes de ele encontrá-la no lixão, mas ele também não se interessa em saber: ela será o seu único verdadeiro amor para todo o sempre.

Ao retornar para casa, Garcia descobre que Paula se suicidou com uma forca presa ao ventilador de teto do quarto. Demônios cercam o local, e Garcia mata a todos, até que então aparece o líder de todos os demônios: o temível Fleming.

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Fleming é o monstrengo que é de fato o demônio mais poderoso de todos. Comandante do exército dos demônios e líder do submundo, ele governa a tudo e todos com mãos de aço. Conhecido por ser cruel e terrível demais até mesmo para os padrões de um demônio, Fleming costuma brincar com as almas dos demônios que desobedecem aos seus comandos, e ainda se alimenta daqueles que ousam se voltar contra eles. Ele é capaz de dominar a vida e a morte dos seres humanos.

Fleming culpa Garcia pelo assassinato de milhares de demônios sob seu exército, e diz que veio para reclamar a alma de Paula, que, por se suicidar voluntariamente, agora pertence a ele. Fleming ainda oferece um acordo a Garcia: se ele se curvar a Fleming, aceitar sua inferioridade e entregar sua alma a ele, ele pode deixar a alma de Paula em paz. É claro que Garcia não aceita. Garcia tenta impedir Fleming de levar Paula embora, mas não consegue, e Fleming volta para o submundo levando a alma de Paula com ele.

Garcia segue Fleming até o submundo. Dentro do submundo, cabe a ele chegar até o local em que Paula está sendo mantida presa, ou seja, no alto de seu castelo. Como Johnson é um demônio ex-habitante do local, ele vai apresentando a Garcia o caminho correto, passando por diversos tipos de cenários e enfrentando diversos inimigos no meio do caminho. Além de demônios comuns, Garcia também encontrará alguns demônios especiais, que são conhecidos como demônios "VIPS": demônios mais poderosos do que a maioria e que possuem total liberdade de ação concedida por Fleming. Entre esses demônios, podemos contar com George Reed:

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Além de George Reed, tem também Eliot Thomas, e, claro, as irmãs Sister Grims. Garcia tem de derrotar a todos se quiser reencontrar Paula.

Em sua passagem pelo inferno, Garcia e Johnson se deparam com livros que contam histórias macabras de seus principais integrantes. Uma destas histórias falar sobre a "Caçadora Indomável", uma mulher que costumava ser uma demônio que era uma caçadora de demônios. Essa bela caçadora era muito poderosa e muito corajosa. Um dia, ela decidiu se impor contra o próprio Fleming. Porém, ela foi derrotada por Fleming. Como punição por seus atos, ela foi obrigada a se casar com ele, e então Fleming se tornou dono de sua alma. A esposa de Fleming então era brutalmente assassinada todos os dias, por puro prazer de Fleming, que fazia isso apenas para mostrar a ela quem era o mais forte da relação. Nada como o mais puro amor entre demônios, não é mesmo?

Só tem um porém. Garcia começa a revelar, em suas passagens pelo inferno, alguns segredos e detalhes de Paula. Paula era uma belíssima mulher, provocante e meiga nos momentos certos, mas também aterrorizadoramente cruel quando queria, também. Sensual, ela adorava vestir vermelho. Além disso, ela sabia atirar muito bem, era indomável e não tinha medo de nada e nem de ninguém. Todas essas informações fazem crer que a Paula é, na verdade, a Caçadora Indomável das histórias! Todas as características batem! Ou seja, ela conseguiu fugir do inferno, e foi parar no lixão atrás do mercado. Garcia a encontrou, e se apaixonou por ela. Paula aceitou viver com Garcia, a princípio, apenas para fugir das garras de Fleming, mas depois ela acabou se apaixonando por ele. E, nesse triângulo amoroso, é claro que um dia Fleming iria perceber o paradeiro dela e vir buscá-la. Ansiando que esse dia pudesse vir a acontecer, ela se suicidou, mas, ao fazer isso, acabou se entregando de volta a Fleming. Por isso que ele veio buscá-la diretamente: antes de pertencer a Garcia, Paula já era esposa do líder dos demônios!

Mesmo assim, Garcia insiste em sua busca por Paula, e consegue confrontar Fleming diretamente. Em um embate direto, ele acaba por derrotá-lo. Sem Fleming para impedir a sua relação com Paula, ele tenta resgatá-la... Porém a própria Paula culpa Garcia por tudo o que está acontecendo a ela, e a própria Paula tenta matar Garcia. Garcia e Paula se enfrentam (Paula revela seu lado demônio de uma vez por todas), e Garcia sai vencedor. Após ser derrotada, Paula volta a revelar seu lado humano, doce, meigo e apaixonante de antes. Garcia então a abraça e jura que vai protegê-la para todo o sempre.

Despertando no mundo dos vivos, Garcia, Paula e Johnson viviam tranquilamente, e até mesmo estavam marcando uma viagem ao México. Porém, nesse momento, Johnson recebe um telefonema. Paula tenta impedir Garcia de atender o telefone, mas ele atende mesmo assim, e percebe que quem está falando é Fleming. Fleming não só está vivo, como ainda está disposto a reaver sua antiga esposa. O mundo dos vivos se enche de escuridão quando Garcia percebe que uma legião de demônios vêem em sua direção. Mas ele apenas se prepara, e diz que não vai abandonar Paula por nada nesse mundo.

E assim acaba a macabra aventura de Shadows of the Damned! Espero que tenham gostado.

Sobre o jogo

Shadows of the Damned é uma criação em conjunto de um grupo de mestres do terror e da ação. Tendo nomes como Suda51, Shinji Mikami e Akira Yamaoka na criação de um jogo, não teria como ser diferente, não é? E o jogo traz exatamente tudo isso: a safadeza e a originalidade brutal da história dos jogos de Suda51, a mecânica de jogo rápida e eficiente dos jogos de Shinji Mikami e a excelente trilha sonora marcante e contagiante de Akira Yamaoka, tudo organizado e dirigido pelo mestre Massimo Guarini.
A história é forte e brutal. Repleto de cenas de susto, de sangue, de corpos desmembrados, membros dilacerados, gritos extasiantes de bebês e bonecas chorosas, a atmosfera do game é impressionante. Não é algo que dê medo no jogador, como um Survival-Horror: o motivo é mais sublime. As cenas de terror não são para dar medo apenas, e sim para deixar o jogador boquiaberto com a crueldade do inferno. Afinal, quando se faz um passeio no inferno, não é difícil de se imaginar uma avalanche de corpos por todos os lados, ou um boliche com cabeça de seres humanos, não é mesmo?
Mas Shadows of the Damned vai além, e mostra cenas ainda mais agressivas e perturbadoras do que isso. A nudez é algo que convence bastante: o sex appeal da personagem Paula é algo muito corriqueiro no jogo. Ela aparece sempre em trajes sensuais, como lingeries e roupas coladas às curvas, e faz poses provocantes. Aliando isso ao contexto do jogo, não cria algo absurdo, e sim algo puramente crível: é apelativo, mas o jogo todo é tão apelativo que fica parecendo natural. Ou seja, tudo é tão absurdo que os pequenos exageros apenas abrilhantam ainda mais a atmosfera do jogo, a meu ver.
As piadas também são polêmicas. O jogo é repleto de humor negro e de piadinhas, mas 70% das piadas fazem referência a sexo ou a pênis. Um exemplo é o fato do parceiro de Garcia se chamar Johnson (Johnson é como os americanos costumam chamar seus próprios pênis em terceira pessoa), e haver muitas piadas como "peguem no meu Johnson", "sintam o tamanho do meu Johnson", ou mesmo, como aparecia em um dos trailers do jogo, "aumentem o seu Johnson". Quando as piadas não falam de pênis em si, fazem alusões bem-humoradas a sexo. São entradas forçadas, como quando Johnson se refere aos bordéis que ele costumava ir no inferno, ou quando ele fala sobre qual o nome do livro que escreveram sobre ele ("alguma coisa" com testículos). Não chega a ser hilário a ponto de lhe fazer rir, mas convenhamos, faz parte do clima do jogo. As piadas mais legais estão sempre ocultas, e o jogador tem que ser um pouco sagaz para compreender o humor por trás de alguns letreiros, cartazes ou mesmo na fala de alguns personagens. Não sei qual seu tipo predileto de humor, mas eu dei algumas risadas aqui e ali.
Agora vamos falar do combate. Tratando-se de um Third-Person Shooter, não tem muito do que se comentar em relação à ação. Tudo o que se pode esperar de um jogo de tiro em terceira pessoas encontramos aqui: reguladores de velocidade de mira, a capacidade de se mover enquanto mira e também uma forma de se virar rapidamente para trás para evitar ataques furtivos. Os comandos são simples e práticos: segure o botão esquerdo para mirar e aperte o direito para atirar, assim como é de se esperar.
O jogo se limita a quatro armas: um bastão e mais três armas de fogo, sendo elas uma pistola, uma espingarda e uma metralhadora. A munição é característica: a pistola lança ossos, a espingarda lança caveiras e a metralhadora lança dentes. Por falar em munição, ela é abundante: na verdade, eu diria que ela é infinita. Há postos de reabastecimento de munição. Ao se pegar uma caixa de munição, basta que o personagem se afaste e volte para que a caixa de munição reapareça. Sendo assim, o jogador nunca fica sem munição para suas armas, de modo que ele pode se preocupar em realmente usar a arma que ele preferir mais. É claro que o jogo exige um certo tipo de arma em alguns momentos, contra alguns inimigos específicos ou para resolver alguns quebra-cabeças, mas em geral o jogador possui total liberdade em combate para criar seu próprio estilo de batalha.
Apesar de serem apenas três armas, elas são completamente customizáveis. Após enfrentarmos chefes de fase, recebemos diamantes azuis, que transformam nossas armas em versões mais potentes e mais avançadas. As armas ficam maiores e mais rápidas, mas continuam com suas características principais. O legal é que algumas armas passam a possuir uma função extra, como a pistola que se torna um lançador de minas explosivas, a espingarda que se torna um lança-granadas e a metralhadora que se torna uma arma de tiros teleguiados após alguns upgrades. Bem interessante.
E não é só isso. Usando diamantes vermelhos que adquirimos nas fases (ou podemos comprar em lojas especiais), poderemos realizar upgrades mais específicos nas armas. Podemos aumentar o poder, a velocidade de reload e a capacidade de munição de qualquer arma a qualquer momento, contanto que tenha diamantes vermelhos. A diferença é muito sutil e difícil de se perceber a princípio, mas vale a pena realizar as customizações. Ah, e também podemos aumentar a quantidade de tamanho do HP do Garcia.
Os inimigos são previsíveis e não são lá muito elaborados. Na maioria das vezes, encontrará zumbis. Eles são geralmente lentos, mas correm quando necessário. Há ainda seres rastejantes e uma ou outra variação desses monstros. Eles podem ser mortos com qualquer arma, e as balas ficam encravadas em seus corpos putrefatos. No entanto, a bala na cabeça é a mais eficiente (há até um zoom bacana quando acertamos a cabeça de um demônio).
As batalhas contra chefes também são constantes. As batalhas são variadas e muito bem pensadas: os inimigos são monstrengos enormes e com poderes peculiares. Há um ponto que enfraquece um pouco a partida: cada chefe possui um ponto fraco. Esse ponto fraco fica brilhantemente disponível para quem quiser ver, através de um símbolo vermelho. Algo bem semelhante ao que a Nintendo faz com a franquia Zelda desde que o mundo é mundo, indicando os olhos amarelos dos monstros como os pontos fracos. Aqui em Shadows of the Damned o princípio é o mesmo: onde tem ponto vermelho, atire. Se não tem ponto vermelho ainda, dê uma volta e faça alguma coisa até poder ver o ponto vermelho. Parece simples demais, mas não é tão simples assim não. Mesmo com essa fórmula simples e ultrapassada, as batalhas conseguem ser complexas e cativantes a ponto de serem divertidas de se jogar.
No inferno, há trevas. Em diversos momentos do jogo (que se assemelham a momentos de outros jogos de terror, como Silent Hill e Alan Wake), tudo ficará escuro. A escuridão é capaz de matar Garcia se você permanecer lá por muito tempo, e os monstros ficam imortais nesse momento. Para dispersar a escuridão, há algumas formas: é possível acender lamparinas, entrar em refúgios iluminados, ou mesmo acender cabeças de cabra, que, por algum motivo, possuem o poder de repelir a escuridão. Para isso é usado o tiro de luz, que é infinito e pode ser disparado por qualquer arma do jogo. É claro que vai se tornando cada vez mais complicado conseguir repelir a escuridão, conforme se prossegue.
Às vezes, os períodos de escuridão são apenas travessias momentâneas que ligam uma fase à outra. Atravessar esses trechos é bem simples (o caminho está quase sempre bem visível), mas o tempo é curto. Nesses trechos, geralmente encontrará corações, que aumentam a expectativa de vida de Garcia nesses locais escuros por mais alguns segundos.
Durante esses períodos de escuridão, os monstros se tornam imortais. E também, mesmo fora da escuridão, os monstros podem aparecer em sua forma obscura, o que os torna imunes a disparos. Para dispersar a forma obscura e fazer os inimigos voltarem ao normal, basta dar uma porrada com o bastão ou disparar um tiro de luz nele. Assim, ele voltará ao normal e então você poderá matá-lo normalmente. Também é possível disparar um tiro de luz em monstros sem estarem na forma escura, e, ao fazer isso, eles ficarão tontos por alguns momentos, o que pode vir a calhar em algumas situações.
A ação do jogo é frenética. O jogo compensa a simplicidade dos inimigos ao fornecer um grande número deles. Haverá ocasiões em que será atacado por multidões de monstros ao mesmo tempo, vindos de diferentes direções. Alguns desses monstros possuem máscaras que os protegem de tiros na cabeça (e ainda os tornam invisíveis no escuro, uma vez que esconde seus olhos vermelhos), e outros possuem armaduras completas que precisam ser destruídas aos poucos usando armas especiais. Sendo assim, passará por verdadeiros momentos de sufoco no jogo, em algumas batalhas mais complicadas, principalmente contra oponentes mais resistentes e poderosos. Precisará de reflexo e muita coordenação. Mas, para facilitar o nosso lado, a inteligência artificial inimiga é muito fraca, de modo que é fácil encontrar inimigos perdidos pelo cenário, presos atrás de objetos ou mesmo sem conseguir sair de dentro de uma casa para nos atacar.
O sistema de vida do jogo é simples: há uma barra de vida no canto inferior direito. Essa barra de vida vai se esvaindo de acordo com os ataques que recebemos. Quando Garcia entra na escuridão, uma barra paralela se esvai, e, quando ela acaba, a vida de Garcia começa a se esvair também. Para curar a vida, Garcia bebe diferentes bebidas alcoólicas. O saquê enche um pouco de bebida, tequila enche um pouco mais, e o absinto enche a vida inteira do personagem. Garcia encontra bebidas pelas fases, e também pode comprá-las em lojas específicas.
Vamos falar agora sobre o sistema de compras. A moeda do jogo são diamantes brancos. Conseguimos diamantes brancos eliminando inimigos e também pegando pelo cenário, dentro de caixas ou de barris. Acumulando esses diamantes, podemos gastá-los como quisermos. A princípio, o jogador encontra pequenas cabines de venda automáticas, que fornecem apenas bebidas alcoólicas. Porém, após um tempo, o jogador conhece um demônio mercador, chamado Christopher. Esse demônio comercializa tudo o que poderá precisar no inferno: bebidas alcoólicas, munição, e até mesmo diamantes vermelhos. Ele fica espalhado em diversos pontos das fases (assim como os mercadores de Resident Evil 4), sempre prontos a nos ajudar com seu estoque infinito de itens.
Para desviar um pouco a atenção do jogador e não cansá-lo com cenas de ação repetitivas demais, o jogo veio repleto de puzzles e mini-games. Os puzzles são bem simples a princípio, e vão se complicando um pouquinho mais para o final. Nada que se leve muito tempo para resolver, mas também não é tão simples a ponto de se resolver em menos de um minuto. Os puzzles são legais, mas o que pode irritar um pouco são os mini-games. Há alguns mini-games que são divertidos e inusitados, mas alguns são totalmente despropositados e não têm nada a ver com o jogo em si, sendo apenas um "adendo". Alguns trechos também são esporádicos e se assemelham a pequenos mini-games, como quando temos de seguir um monstrengo rastejante que é a única fonte de luz da fase, ou quando temos de correr de uma Paula enfurecida que pode nos matar com um único beijo. Sendo obrigatórios, chega a ser estranho passar fases inteiras nesses mini-games que não acrescentam muita coisa. Mas pelo menos eles tornam o jogo menos voltado à "matança de hordas infindáveis de inimigos" e mais variado.
Uma coisa que também merece ser informada é a densidade que os criadores tentaram dar aos personagens do jogo. A princípio, está tudo muito obscuro e misterioso, mas, conforme se avança, novos detalhes aqui e ali começam a ser revelados sobre o passado dos personagens. Claro, com muito humor, e sempre em diálogos, mas é interessante de se ver o background interessante que eles criaram para cada um dos personagens. Tudo fica arquivado dentro da "Johnsonpedia", uma enciclopédia de assuntos do jogo. Até mesmo os vilões do jogo possuem uma história por trás, e geralmente elas são contadas através de livros espalhados pelo jogo. Diferente de outros jogos, a leitura dos livros é narrada por Garcia e Johnson, que interpretam os personagens, dando um ar muito mais interessante (e sempre hilário) para as cenas que ocorrem. Foi uma excelente adição, e acrescenta bastante para o jogo.
Por fi, fica claro e evidente a paixão que os desenvolvedores têm por filmes B. Afinal de contas, olhando de uma perspectiva mais clínica, Shadows of the Damned é uma sátira muito bem pensada dos velhos filmes de horror B, e inclusive possui referências clássicas àquela época. Seja no ácido humor negro, nas cenas de brutalidade, de sexo ou de fantasia gótica, o jogo é diferente de tudo o que você já viu. Outros games tentaram passar a mesma mensagem no passado, como Evil Dead, por exemplo, mas nenhum deles conseguiu tão bem quanto Shadows of the Damned, disso você pode ter certeza.

Minha análise do jogo

Gráficos
Os gráficos de Shadows of the Damned são bons, mas mereciam um capricho melhor. Os cenários foram bem produzidos e idealizados (para os padrões do inferno), e estão coloridos suficiente e detalhados o bastante... Apenas não impressionam tanto assim. Se o jogo permanece acima da média em diversos quesitos, a animação dos personagens e dos inimigos poderia ter sido um pouco incrementada, porque algumas coisas ficaram bem estranhas. Mas nada supera o alto nível de bugs que acontecem: inimigos atravessando paredes, lâminas e sangue atravessando as portas e braços passando pelos obstáculos é algo tão abundante que chega a ser normal no jogo. A Grasshopper poderia ter se dedicado um pouco mais para fazer algo muito melhor, diga-se de passagem. Não está feio, longe disso, mas o empenho que eles tiveram com os gráficos não passa de considerável.
● Nota pessoal: 3/5 (Empenho Considerável)

Som
Um dos maiores acertos que a Grasshopper Manufacture poderia fazer foi contratar Akira Yamaoka. O clima de Shadows of the Damned é denso, é apocalíptico, é demoníaco, é sádico e é brutal. E Akira Yamaoka sabe muito bem como compor músicas que se adequam perfeitamente bem a esse clima. Afinal, o cara compôs algumas das músicas mais aterrorizantes que pudemos escutar, para a franquia Silent Hill. E ele mostrou que mantém o mesmo profissionalismo: a trilha sonora do jogo é perfeita. Muito acima até do que poderíamos esperar. A dublagem do jogo também está bem acima da média, sendo cômica e interessante de se ouvir em todos os momentos. E o bom trabalho continua ainda nos sons ambientes, nos sons dos oponentes, dos tiros e tudo o mais. Nenhum defeito para apontar, o empenho da Grasshopper com o som foi máximo.
● Nota pessoal: 5/5 (Empenho Máximo)

Jogabilidade
Shadows of the Damned possui uma jogabilidade que funciona muito bem. Sua mecânica não é algo novo, é verdade: o jogo possui um estilo de jogo que está mais para os Third-Person Shooters antigos do que para os mais modernos, mas ele possui tudo o que um jogo desse gênero precisa ter. Não deixa a dever em nada em versatilidade e em customização. A movimentação do personagem foi prejudicada em troca de um uso mais consciente da câmera (o analógico esquerdo permite ao personagem andar de lado, e não virar para o lado, como deveria ser), principalmente em combate, mas isso é um ponto ao mesmo negativo e positivo. O jogo possui um sistema de combate que ficou muito mais rico e focado dessa forma. Tudo bem que o processo de mira (incluindo o indicador de mira) falha às vezes e acertar um alvo à distância pode ficar mais difícil do que poderia ser, sem contar um ou outro problema de câmera que pode atrapalhar aqui e ali, mas no todo a Grasshopper se preocupou com quase todos os detalhes. Ela incluiu coisas legais (como a possibilidade atacar alguém tentando lhe pegar desprevenido pelas costas e a virada 180º enquanto se está mirando), e isso não pode ser esquecido também. No todo, eu diria que o empenho dos produtores foi excelente.
● Nota pessoal: 4/5 (Empenho Excelente)

Longevidade
Essa foi uma mancada e tanto da Grasshopper Manufacture. Para um jogo de tiro essencialmente single-player, sem nenhum tipo de modo multiplayer, a longevidade é um fator que incomoda. E Shadows of the Damned até possui potencial para lutar contra isso, mas simplesmente ignorou o fato. O motivo através do qual jogos como God of War e Devil May Cry são single-player e possuem boas longevidades é que eles apresentam motivos para se jogar depois que a história termina. Veja bem, Shadows of the Damned possui de 9 a 11 horas de jogo, o que não é pouco. É uma quantidade até que razoável, levando em consideração que a ação é ininterrupta no jogo. Mas o problema é que não há extras, não há um modo New Game +, enfim, nada que faça o jogador continuar jogando. Claro, há três modos de dificuldade, mas isso não é o bastante, sendo que não há nada diferente quando for jogar mais uma vez. Uma pena, mas o empenho que a equipe da Grasshopper teve com a longevidade foi apenas considerável. Poderia ter sido muito, mas muito melhor.
● Nota pessoal: 3/5 (Empenho Considerável)

Inovação
Um dos pontos mais controversos desse jogo é o quanto ele consegue ser inovador. Afinal, como avaliar a capacidade inovadora de um jogo que tem por princípio satirizar os filmes de terror de década atrás e apresentar uma mecânica de jogo muito popular cerca de 10 anos atrás e com poucas alterações? Afinal de contas, Shadows of the Damned não é o que se pode chamar de "moderno", não é mesmo? Mas ele é, sim, único. Aquilo que ele tentou reproduzir poucos tentaram, e, entre aqueles que tentaram, Shadows of the Damned foi o que se saiu melhor. Um jogo que transborda criatividade em seu âmago, indo desde a história, os cenários, a constituição dos personagens e a mecânica básica de jogo. A fórmula de ação é igual ao de vários que podemos encontrar por aí, mas a essência de Shadows of the Damned é cativante o bastante para fazer com que você dificilmente consiga compará-lo com outros jogos de seu gênero, tanto nessa geração quanto em qualquer geração gamística. Uma obra de arte grotesca, sanguinária e perturbadora, mas uma experiência que lhe deixará com saudades. Apenas uma coisa ou outra ficou batida ou previsível demais, o que me impede de dar a nota máxima. O empenho que as mentes criativas da Grasshopper teve foi excelente.
● Nota pessoal: 4/5 (Empenho Excelente)

Diversão
Shadows of the Damned possui diversos elementos divertidos. A história do jogo é inusitada e instigante. A evolução do jogo também é algo legal, até porque o jogo não chega a ser tão cansativo, pois sabe mesclar bem os momentos de ação com os puzzles e com os mini-games. Mas eu tenho que falar dos mini-games... Vamos lá, eles foram bem pensados, bem feitos e tal, mas... Estão entre os mini-games mais estranhos que eu já vi. Tanto a parte Shoot'em Up Side-Scrolling (são três fases só assim) quanto à parte de reflexo do Big Boner, até mesmo passando pelas partes em que temos de correr da Paula enlouquecida da mesma forma que Crash Bandicoot corria da pedra gigante, todas elas são referências a outros games, mas ficaram levemente fora de contexto ali. Divertidas, porém desnecessárias, e, por serem puramente obrigatórias, fico pensando que elas talvez poderiam ter sido deixadas de lado. Mas o que importa é que a presença delas desvirtua um pouco o jogo da ação ininterrupta. Os cenários também são lineares demais, mas possuem algumas poucas passagens secretas que nos fazem querer explorá-lo um pouco mais a fundo do que deveríamos (não que seja necessário). Fora isso, as cenas do jogo e as narrativas dos livros de histórias macabras também trazem momentos muito bacanas e inesquecíveis para o jogador. Pena que há momentos frustrantes no jogo, como o fato de o jogo ser simples demais e fácil demais, com poucos momentos de desafio real. Chefes de fase previsíveis também encabeçam a lista de porque eu posso dizer que o empenho que a Grasshopper teve com a diversão desse jogo não foi máxima. Tem alguns defeitos, mas ainda assim o empenho, a meu ver, foi excelente.
● Nota pessoal: 4/5 (Empenho Excelente)

Soma Final: 23/30 (Muito Bom)

Em resumo: Shadows of the Damned é um jogo muito bom. Alguns problemas técnicos fazem com que esse game não se torne um clássico instantâneo ou uma obra-prima, porém esse jogo possui elementos isolados de uma obra-prima. Ele não é perfeito em tudo (raríssimos jogos são), mas não é de se jogar fora de maneira alguma. Uma excelente iniciativa de uma das parcerias mais aguardadas dos últimos tempos na indústria gamística, e merece fazer parte de sua coleção, caso você seja um fã de jogos de tiro com muito humor negro, sexo e terror.


Análises profissionais

A média pela Metacritic para Shadows of the Damned é 77/100.

Detonado em vídeo

Este é o melhor e mais completo detonado em vídeo na internet para Shadows of the Damned. Ele mostra como passar por todas as fases, coletando o máximo possível de itens, e da maneira mais fácil. Mostra também alguns extras e a melhor estratégia para combater os chefões. Além de tudo, ainda está com uma excelente qualidade de som e imagem, e muito bem compactado para caber na menor quantidade de vídeo possível. Vale a pena conferir!

Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4


Parte 5


Parte 6


Parte 7


Parte 8


E aí, o que achou desta análise? Curtiu? Deixe-me seu comentário, ou entre em contato comigo pelo e-mail: adm_melhorfinal@hotmail.com ou pelo twitter: @AdmMelhorFinal.
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